Jornalista, com ou sem diploma


Notícias 25 - 01 de abril de 2011
por Biaphra Galeno - Jornalista

Quando se fala na profissão de jornalista, há de se relacionar leitura – muita leitura –, interatividade com novas ferramentas tecnológicas, curiosidade e atitude. Parece algo generalista? Um jornalista tem de ser, sobretudo, versátil. Tem de saber, inevitavelmente, “um pouco de tudo”, como costumam dizer, e ainda mais sobre a área na qual deseja trabalhar. É o profissional que pode trabalhar em Impresso, Internet, Rádio, TV e Assessoria em uma infinidade de segmentos.

Exatamente nesta questão há o ponto positivo e negativo da profissão: o generalismo. O Jornalismo abre um leque de opções para atuação, ao mesmo passo que leva às universidades diversos jovens em dúvida sobre o que faze
r profissionalmente. É comum ver jornalistas em áreas nas quais sequer imaginaram trabalhar um dia, assim como um grande número de desistências ao longo do período acadêmico.

Antes de ingressar em uma faculdade de Jornalismo, a pessoa com interesse em trabalhar na área deve, assim como em qualquer outra profissão, pesquisar a respeito. Há diversos livros que falam sobre a produção jornalística. Muitos retratam algo próximo de um ideal, como deveria ser, e não como é a realidade de uma redação.

Três livros, de renomados jornalistas, apresentam versões sobre o cotidiano da profissão: A arte de fazer um jornal diário, de Ricardo Noblat; A prática da reportagem, de Ricardo Kotscho; e Manual de Telejornalismo, de Herodoto Barbeiro e Paulo Rodolfo De Lima. Neles, há a possibilidade de saber um pouco sobre a atuação de um repórter, pauteiro, editor, secretário de redação e outras funções da área.


Durante o período da faculdade, é essencial o cadastro em sites com vagas na área de comunicação. Mesmo se a pessoa tiver um trabalho estável, ações como estas se fazem necessárias para ter uma ideia sobre como são as vagas, as atividades e remuneração oferecidas. O “jornalista profissional” – denominação do Ministério do Trabalho para jornalistas diplomados – com experiência anterior em estágios é, na maior parte das vezes, um diferencial. É raro encontrar vagas que não exijam qualquer tipo de experiência.

Capelo na cabeça, diploma na mão: “E agora?”

As figuras mitológicas que aparecem nas televisões e os conceitos construídos ao longo dos anos distorceram a imagem do jornalista, que é um profissional assalariado, geralmente trabalha além do horário e, muitas vezes, não recebe hora-extra. Não há glamour nisso.

A questão do diploma de jornalista trouxe, efetivamente, duas coisas: dúvidas e diminuição do salário. No Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o piso da categoria para quem trabalha em jornais e revistas na Capital é R$ 1.904,00, por cinco horas trabalhadas. Para quem ingressa no mercado, não é difícil encontrar uma remuneração como essa. Agora, vagas com remuneração e carga horária i
guais às que o Sindicato propõe são raras.

Dependendo do veículo no qual trabalha, o jornalista tem de lidar com presentes e convites oferecidos por fontes ou assessorias de empresas. Atualmente, todo mundo quer passar uma imagem positiva. Mesmo que a empresa ou fonte não tenham algo negativo para contrapor na matéria, os presentes têm grande possibilidade de interferir na hora de o jornalista escrever o texto. O ser jornalista é se deparar diariamente com questões éticas. Há sempre uma escolha. Por exemplo: o profissional escreve para uma revista de carros. A montadora oferece um veículo para test-drive por um período muito superior ao que um cliente. Não dá para dizer que o carro seja do jornalista, mas é como se fosse. Para a montadora é apenas um carro e a contrapartida é a possibilidade de ter uma matéria positiva sobre o carro, cujo valor é maior do que o do “presente”.

Ainda sobre a questão ética, sobretudo para quem trabalha em redação, há o comum embate entre as áreas Comercial e Editorial. Um fecha os anúncios, comumente chamados de propaganda, e trazem o sustento financeiro do veículo. O outro é responsável pelo conteúdo publicado, a cara do veículo, a credibilidade. O briga se dá quando um interfere na atuação do outro. Por exemplo: o diretor Comercial que pauta matéria sobre um determinado anunciante. Esta situação ocorre com maior frequência em jornais menores. O que acontece – aí sem distinção entre os grandes e pequenos – é o não divulgar fatos negativos sobre anunciantes. Por exemplo: a empresa varejista que tem recordes de reclamação no Código de Defesa do Consumidor. Quando a publicação faz uma matéria relacionada ao assunto, ocultam o fato.

Por falar em fato, costuma-se dizer que a “verdade” jornalística é constituída por versões. Quanto maior a quantidade de “versões”, mais rica será a matéria. Entre fatos, versões, verdades e mentiras, uma coisa é certa: após fazer a faculdade de Jornalismo, a pessoa nunca mais vai ler, ouvir ou assistir a um jornal como antes. É uma profissão que, financeiramente, pode não trazer os benefícios que uma sociedade capitalista almeja, mas o crescimento pessoal proveniente dela é, sem dúvida, muito maior.

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