Notícias 23 - 28 de fevereiro de 2011
[Crônica]
Por: Claudia Giron Munck é Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, Pós-Graduada em Comunicação Organizacional e Relações Públicas.
O feriado que marca o fim das férias é uma festa dedicada à carne, onde tudo é permitido. O lema é que as restrições morais sejam esquecidas para compensar os próximos 40 dias de jejum e retiro... que eu nunca soube de alguém que tenha feito.
Por: Claudia Giron Munck é Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, Pós-Graduada em Comunicação Organizacional e Relações Públicas.
O feriado que marca o fim das férias é uma festa dedicada à carne, onde tudo é permitido. O lema é que as restrições morais sejam esquecidas para compensar os próximos 40 dias de jejum e retiro... que eu nunca soube de alguém que tenha feito.
Quando pequena, não sabia o que se comemorava no carnaval. Era um dia que podia vestir saia de tule e meu tio levava a gente em baile matinê. O pessoal ria cantando “a pipa do vovô não sobe mais”, mas eu não. Tinha pena do tal vovô. Por que não levavam o velhinho para um lugar com mais vento?
Queria saber um motivo para festejar. O que era o verdadeiro prazer da carne?
Cresci. As primeiras investidas de carnaval foram na praia. Sempre vem aquela história de eu paguei, você comeu, ninguém limpou. Uma multidão pra tomar banho, enquanto a gente fica lá fora, cheio de areia, temperando mais um pouco no sal. Depois tem festinha no centro da cidade, basta uma risada descuidada e surge um jato ninja de espuma direto na sua boca... nem o Rei Leão diria “viscoso, mas gostoso”, aquele sabão é limboso e tem um gosto horrível.
Paulista passa o ano parado no trânsito e no feriado “dos prazeres”, resolve pegar mais trânsito, filas e lugares lotados. E continuo me perguntando o que seria um motivo verdadeiro para essa comemoração?
Interior! Folia de cidade pequena acontece na rua e a graça é encontrar conhecidos, fazer fantasias toscas e brincar. Hã hã, quer dizer, isso para quem mora lá. O que não era o meu caso, uma ilustre desconhecida no meio da multidão.
Tudo bem, o sambódromo então. Abri alas para a escola do coração passar! Ela entra na avenida. E a forte chuva resolve desfilar também. Quase meia hora ouvindo a mesma música debaixo de chuva até conseguir ver as primeiras fantasias. Ei, cadê aqueles locutores da tevê explicando as alas? Essa hora a sandália melissinha [legenda para homens: sapato de plástico] fazia as bolhas entrarem em cena nos meus pés. Juro que pela tevê, no conforto, tudo parecia bem mais bacana.
Numa viagem à Itália, descobri o carnaval de Veneza. Fantasias sofisticadas fora do sambódromo. Você vira uma das estreitas ruas e dá de cara com uma Colombina. Um sonho, até uma máscara bicuda cutucar meu ombro. Olhei pro lado e algo me incomodou. Apesar das brincadeiras e de tamanha beleza, as máscaras expressam tristeza. É um olhar constante, que chega a dar até um ar meio sombrio. Aqueles rostos estáticos, sérios. Ainda faltava algo naquelas festas.
Então quebrei as regras e fui comemorar o famoso “carnaval” longe da bagunça de foliões alvoroçados. Num monte alto, olhando para o vale, lembrei do tal vovô com a pipa: “tem bastante vento aqui... rs”. Já era meio dia e o sol forte aumentava a sensação de calor. Resolvi dar um mergulho. A cabeça já submersa parecia ter entrado em uma outra dimensão. Peixes multicoloridos brincavam tranqüilamente lá no fundo. Dava vontade de sair pelos mares procurando Nemo com eles. Os raios de sol batiam na água fazendo-a brilhar mais que minha antiga saia de tule. Plantas exóticas dançavam no balanço das águas, em um ritmo delicado. Sem marchinhas, batuques ou gritos. Nenhum barulho. Por segundos, era como se um novo mundo tivesse se revelado, então voltei à superfície.
O cheiro de mata era aconchegante. Fiquei ali na ponta da água deitada, olhando pro céu, imaginando sobre o que falava a música daqueles pássaros alegres lá no alto. De certo não zombavam de nenhum velhinho. Mergulhavam no ar e retomavam altitude com pequenos movimentos, apenas acompanhando a direção do vento. Fechei os olhos. De repente, uma leve brisa me tocou. Nesse dia, enfim, descobri o que era uma verdadeira festa para a carne... porque se encheu também meu espírito.
Curiosidades: O carnaval de Veneza tem uma festa de abertura tradicional. Os festejos só começam depois que uma pessoa, geralmente uma celebridade, se joga do campanário, de uma altura de 97 metros, presa a um cabo de aço, representando o que é chamado de “Salto ou Voo do Anjo”.
Não por acaso, o anjo que deu origem aos pecados da carne, motivo do “carna-val”, é conhecido como o “Anjo Caído” (Lúcifer, a estrela de luz). *Referência
Pois é, todo mundo esquece, mas o carnaval é uma festa "religiosa". De origem pagã, incorporada ao calendário cristão com uma justificativa barata, só para fazer o sincretismo e permitir exageros.
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