Para nossa alegria - Fenômenos da Internet


Ano 3 - Revista nº 4 - Maio 2012

O que ele tem de tão especial? Nada. O vídeo conta apenas com a espontaneidade.

Abaixem as plaquinhas de protesto aqueles que ficaram irados achando que o vídeo deturpava uma música clássica cristã. Em primeiro lugar, a piada não é com a música ou seu conteúdo, mas com quem “tentou” cantar. Depois, o vídeo fez tanto sucesso que muita gente que não é cristã, foi procurar a música original para conhecer. Quem deturpou todo e qualquer elemento dessa história foram os abutres capitalistas, que resolveram se valer da fama do vídeo e da família e fizeram dos personagens “bobos da corte” contemporâneos, além de utilizar a música para outros fins.


O que é bacana observar são os fenômenos que surgem em ondas. Primeiro foi a tal “Luiza que está no Canadá”, agora o “Para nossa alegria”. A verdade é que o conteúdo em si nunca é o objeto da piada. O caso da “Luiza no Canadá” virou um fenômeno por causa da graça da frase, não necessariamente pela Luiza que, quando apareceu, fez perder a graça. Assim é com o “Para nossa alegria”. As pessoas acham engraçado adicionar o “para nossa alegria” em qualquer outro contexto. Por exemplo: “Hoje é sexta-feira, para nossa alegria”. Essa é a piada.

O fascinante dessa história é que são movimentos espontâneos e incontroláveis. A publicidade vem há tempos tentando, sem sucesso, reproduzir esses movimentos e, para nossa alegria, não consegue. O que mostra que a web 3.0 pode ser influenciada, mas não pode ser controlada. Ainda é um ambiente onde o capitalismo das marcas não conseguiu direcionar. Isso é bom e ruim.


É bom porque é um momento onde um indivíduo qualquer, comum, desconhecido, tem voz. O que reflete a possibilidade de não sermos mais considerados uma massa homogênea, controlada, mas pessoas que julgam no mínimo “gosto” ou “não gosto”.

Por outro lado, as pessoas não sabem o que dizer. Na ditadura (e agora nos referimos ao panorama brasileiro) os jovens brigaram e até deram suas vidas em prol da liberdade e a nova geração tem liberdade em tanta abundância, que não sabe o que fazer com isso. E aí, surgem outros fenômenos, dessa vez negativos, que é a onda da inutilidade nas redes sociais, os memes repetidos, imagens e mensagens totalmente descartáveis. Futilidades.

Fico pensando o que os militantes anti-ditadura diriam ou fariam se tivessem nas mãos o poder das redes sociais que temos hoje? Essa é uma reflexão que deve vir a nossa mente todas as vezes que pensamos em "postar" algo. E aí, vamos começar a usar a cabeça?

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