E a igreja se calou...

Notícias 16 - 08 de novembro de 2010
A eleição de 2010 foi uma disputa sem igual na história do país. Escândalos, quebra de sigilos, ataques e ofensas, presidente quebrando o decoro para pedir votos a candidatos do partido, debates que em vez de discutir propostas abordavam vida particular e pública dos candidatos e tentava, ao vivo, relembrar a história da corrupção no Brasil. Mas, apesar de todos esses outros absurdos, o que mais diferenciou essas eleições foi o envolvimento religioso.

Que candidatos visitam líderes religiosos todas as vésperas e durante as eleições, isso não é segredo, nem novidade. Que vários desses líderes cedem às propostas indecorosas, também nós já sabemos. O que mudou foi que a comunidade religiosa, como um todo, resolveu, em 2010, debater um tema que a política tentou usar como ponto positivo para a eleição, mas acabou abalando os princípios da religião.

Engraçado que, quando esses candidatos aparecem na igreja tentando comprar os votos dos "fiéis" ou quando fazem visitas públicas à cultos, missas, etc. tentando mostrar que são pacíficos, eles acham que a religião pode e deve participar da política. Porém, quando a igreja defende os princípios morais e de respeito à vida... aí eles dizem que a religião tem que se colocar em seu lugar em vez de dar pitacos na política.

Ora, mas era exatamente o que a igreja estava fazendo: o seu papel. O papel como cidadã, exercendo a democracia e garantindo o direito à vida e papel como igreja, que defende seus princípios. A política é que estava fora de seus direitos, tentando promover um absurdo, contrário à vontade da população e aos valores da família.

Era um fio de esperança nascendo. A cada dia saía uma manchete nos jornais ou na Internet comunicando a adesão da população cristã. O histórico nesse ano era ver diferentes religiões se unindo em um só clamor: o direito à vida. Pela primeira vez no Brasil, as igrejas (e aqui nos referimos ao público, os "fiéis") estavam tomando uma posição, reagindo, se unindo.


Era só alarme falso. No fim, quando e onde poderiam verdadeiramente fazer a diferença [nas urnas] abriram mão dessa posição, fecharam os olhos e deixaram que a história deixasse de ser marcada pela posição do povo e da igreja para ser marcada pela eleição da primeira mulher presidente. E a pergunta que fica no ar é: qual será a real relevância disso? Se os direitos são "iguais", tanto faz ser homem ou mulher. Histórico não é um país governado por uma mulher (até porque o governo não será feito por ela, mas pelos homens que estão por trás), histórico é um país que tem princípios. Bonito é um povo que sabe se impor aos enganos do marketing político e fazer valer a democracia, que não se deixa levar pela emoção da propaganda. Teria sido muito mais honroso.

Mais uma vez acabou em pizza. Para aqueles que acreditaram que tudo não passava de sensacionalismo da mídia ou da oposição, que não tinha porque discutir esse tipo de coisa, veja o link do Diário Oficial da União que registra o pedido oficial da LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, feito pelo Governo Federal.

Pois é, está aí a prova de que política e religião se discute sim, principalmente quando uma interfere na outra.

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